Mas não é um espanto quando percebemos que o tempo todo estávamos cegos?
Que o tempo inteiro um véu turvava nossa visão?
Então por motivos que desconhecemos ele cai.
Cai e deixa você perplexa!
Mas o que está acontecendo afinal?
Você todo tempo achando que estava vivendo uma vida, que tinha algo especial.
Achando que estava sendo amada, que aquilo era real, porque você sentia, porque estava ali na sua frente. Era possível tocar!
E então você percebe que o tempo inteiro estava de olhos fechados.
E tudo que você viveu não aconteceu fora, mas dentro de você.
Apenas dentro de você.
E que os sons da fala eram da sua voz, que as juras de amor eram apenas o seu desejo de amor e que nunca, nunca houve alguém ali para lhe abraçar, você esteve sozinha todo tempo.
Aquele abraço foi você quem lhe deu, e quando adormeceu exausta pelo prazer, adormeceu sozinha.
Não havia ninguém lá, nunca houve.
Você então descobre surpresa que foi capaz de inventar uma vida, que de olhos fechados criou um amor.
Eu inventei você? Pergunta quase sem voz.
Ninguém responde. Não tem ninguém ao seu lado.
É realmente um espanto quando acordamos.
Para o quê? Para o nada, não existe um ontem, o hoje é apenas um véu caído e o amanhã se abre, vira então, possibilidade.
Os olhos são enganadores.
As crianças veem e na medida que crescem perdem a visão para só depois, bem depois, perceberem que ficaram cegas.
Voltar a ver dói muito, não ver, dói muito mais.
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